quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Contexto Histórico da minha cidade SALVADOR

Salvador, onde tudo começou.


                                                                                            (http://veja.abril.com.br/241208/p_126.shtml)
   
      
         Em 1549 inicia-se o processo de colonização efetiva do Brasil com a fundação da sua primeira capital, a Cidade do Salvador. Seu fundador, o primeiro Governador Geral Thomé de Souza desembarcou no atual Porto da Barra, em 29 de março, e iniciou a construção da cidade-fortaleza, planejada para ser o centro administrativo do Brasil.  Salvador foi  capital do Brasil até 1763.


 
                                                     http://sosbarra.blogspot.com.br/p/porto-da-barra-porto-da-barra-cristo.html

    O traçado urbano da cidadela foi definido pelo mestre de cantaria Luís Dias, com nítida preocupação de defesa, cercada por uma paliçada. As primeiras construções foram de taipa e palha. Em 1549, Salvador já possuía pelo menos cinco igrejas: Graça, Vitória, Escada, Conceição da Praia e Ajuda. Apenas esta última era intramuros, dentro da Cidadela, e, em 1552, tornou-se a primeira catedral do Brasil. 


Estátua de Thomé de Souza, na praça que leva o seu nome, no Centro Histórico de Salvador. Ao fundo, o Paço Municipal construído em 1660. Abriga hoje a Câmara Municipal de Salvador.
   Em Salvador concentrou-se uma grande população de europeus, índios, negros e mestiços em decorrência da economia, centrada no comércio com engenhos instalados no vasto Recôncavo, construindo assim uma cultura mestiça. Portanto o soteropolitano era mestiço de português, cristão-novo e índio, mais tarde também de negro, sendo sua origem cultural construída na miscigenação.

    Após o governo de Tomé de Souza, governaram o país Duarte da Costa e Mem de Sá, que teve o comando do país até 1572. Neste período a Bahia era a região que mais exportava açúcar, considerado na época o produto mais exportado do país. A fama e a riqueza da província baiana, despertaram a cobiça de outros países no início do século 17.  

    Nestes tempos Portugal estava unido com a Espanha, colocando várias restrições ao Brasil como, o impedimento do país em firmar relações comerciais com a Holanda. Este fato, ligado a riqueza desencadeada pela exportação do açúcar, fez com que a Holanda resolvesse invadir a Bahia. Uma esquadra comandada pelo holandês Jacob Willekens, chegou às terras baianas em 1624 com 26 navios. Neste período foi construída em Morro de São Paulo a Fortaleza de Tapirandu, uma importante estratégia para defender a Baía de Todos os Santos. Os invasores holandeses ocuparam Salvador e permaneceram por cerca de um ano até serem expulsos pela força luso-espanhola.

    Dos séculos 16 ao 18, Salvador era dos principais elos entre Portugal, o sul da África e o litoral da Ásia, se tornando, assim,  uma cidade cosmopolita. Até o início do século 19, era a maior  e a mais importante cidade do Brasil e a segunda maior em todo o Império Lusitano, atrás apenas de Lisboa. Por causa dessa fantástica ligação, em 1870,  o porto da  Baía de Todos os Santos era o mais movimentado do País, pois a comercialização e exportação de produtos como açúcar, cana, pau-brasil, fumo, laranja de umbigo, água ardente, frutas locais, dentre outros, era intenso. 

   Com isso Salvador passou a ser centro de ação portuguesa no atlântico sul, ponto de contato e intercâmbio portuário com a África, este mais bem conhecido devido à escravidão, mas também com o oriente. Eram muitos marinheiros e tripulantes baianos, que integravam as expedições, viagens e comércios entre a Bahia e Portugal, e os diversos portos do Goa, Macau, Timor, Diu, Cantão, e todo o mundo de expressão portuguesa.
  
   A Bahia, Portugal, os diversos pontos da África, da Índia, do Oceano Índico, do Extremo Oriente, já foram parte de um mesmo Estado, de um mesmo país ligado por portos e comércio ativos(MATTA, 2013). Esta rota de ligação foi denominada como Carreira da Índias.


                                                         (http://pt.wikipedia.org/wiki/Carreira_da_%C3%8Dndia)

 A rota da Índia pelo Oceano Atlântico era monopólio (exclusividade) dos navegadores portugueses, assim como o caminho pelo mar Mediterrâneo fora monopólio das cidades italianas, no século anterior. 
  Portugal tinha o domínio  das escalas na rota para o Oriente e podia evitar que outros  países como a Espanha comerciassem também com as especiarias orientais.


Você sabia que Salvador foi a capital mais importante do Brasil  até 1763?
Você conhecia a expressão carreira das Índias? 


E assim começou: a origem do bairro Cabula
     
      Entre os séculos 16 ao 18, Salvador era dos principais elos entre Portugal, o sul da África e o litoral da Ásia, se tornando, assim, uma cidade cosmopolita. Até o início do século 19, era a maior e a mais importante cidade do Brasil e a segunda maior em todo o Império Lusitano, atrás apenas de Lisboa. Por causa dessa fantástica ligação, em 1870, o porto da Baía de Todos os Santos era o mais movimentado do País, pois a comercialização e exportação de produtos como açúcar, cana, pau-brasil, fumo, laranja de umbigo, água ardente, frutas locais, dentre outros, era intenso.
     É nesse contexto que o bairro Cabula se situa . A região, no passado, serviu de esconderijo para os negros escravizados, formando o Quilombo do Cabula. Essa região foi povoada por negros, principalmente de origem Congo e Angola, que tocavam e dançavam o ritmo religioso chamado kabula, dando origem ao nome do bairro.

   A sociabilidade do Cabula foi implantada por povos guerreiros de Angola e do Congo, primeiros povos escravizados e trazidos ao Brasil para trabalhar na lavoura da cana-de-açúcar no final do século XVI, mas a queda da produção, as invasões holandesas e francesas fizeram com que os portugueses adentrassem no interior da colônia e encontrassem nas áreas de Minas Gerais uma nova forma de expandir seu patrimônio material, a descoberta de pedras preciosas e minerais. Neste ponto surge uma nova rota de trafico; Costa da África, de onde trouxeram povos de Daomé, os jejes, e povos nagôs, os iorubas.
    Os povos do império Congo, sobretudo dos reinos Ndongo (atual Angola) e Matamba, já viviam em luta pela afirmação dos seus direitos políticos no império Congo, de maneira que ao chegarem ao Brasil continuaram a luta e fundaram os quilombos. Muniz Sodré diz que os quilombos representam a radicalização dos recursos de sobrevivência social, comunal, defendiam os modos e forma de organização própria da África ancestral (Cf. 2002, p. 68).
    O Cabula foi um dos lugares de Salvador que possibilitou a criação e expansão desta forma social, em 1826 houve a rebelião do quilombo Orobó, próximo às matas de Plataforma, estes quilombolas tinham contato com a sociedade oficial, eram vendedores de frutas, de carnes, ervas medicinais, mandioca, de maneira que é possível pensar que a organização social que havia nestes espaços, não era, apenas, para um lugar de esconderijo, mas um território político-social com líderes e organização militar, social e econômica própria.
   O quilombo Orobó foi dizimado, mas muitos quilombolas que escaparam da morte ou da prisão fixaram-se nas matas do Cabula em lugares protegidos, mas o governo da província da Bahia ao retomar as terras quilombolas resolveu vende-las à aristocracia Bahia, em um dos escritos de Cid Teixeira (1978) aponta a Condessa de Pedrosa como uma das proprietárias (1882) de terras do Cabula.
    É neste momento que o Cabula passa ser lugar de fazendas e chácaras, o Arraial do Retiro foi um dos lugares bem freqüentado a partir do final do século XIX, contam os antigos moradores que participam de comunidades-terreiros de Angola.
   Como responsáveis pelo início de socialização do lugar, é possível apontar os povos bantus, oriundos do Congo e Angola, como autores do nome do lugar Cabula.


    Até o século XIX, o Cabula era formado por fazendas e chácaras que cultivavam preferencialmente laranja-da-baía, conhecida como "laranja de umbigo", em razão do apêndice polposo característico dessa subespécie, surgida na década de 1810. O fruto não tem semente, reproduzindo-se assexuadamente através de mudas e enxertia.



                  
         Originária do Cabula, a laranja de umbigo foi, posteriormente, levada para a Califórnia. Em 1873, técnicos em citricultura de Riverside, na Califórnia, receberam 3 mudas de laranja-da-baía. Assim, a variedade se espalhou pelos Estados Unidos e outras partes do mundo, com o nome de Washington Navel. A expansão horizontal da cidade foram fundamentais para a transformação do uso do solo no Cabula
     Entre 1940 e o início dos ano 1950 uma praga destruiu os laranjais e, essa situação provocou o loteamento e venda em parcelas das fazendas. Os lotes vendidos foram formando novos bairros dando origem à um grande complexo de comunidades. 
        A partir daí o Cabula passa a ser uma região administrativa XI de Salvador, na Bahia, no Brasil compostas por vários bairros como: Pernambués, Saboeiro, Imbuí, São Gonçalo, Engomadeira, Mata Escura, Narandiba, Tancredo Neves e Cabula 6.  



      A partir dos anos 1970, surgiram diversos condomínios residenciais, a urbanização avança sobre as extensas áreas verdes do bairro, ligadas por vários caminhos chamados de "estradas do Cabula" que permanecem ainda hoje: Ladeira do Cabula, entre outras.
     O bairro abriga, ainda, um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica da cidade. Trata-se de área pertencente à União (Exército Brasileiro) - a "Mata do Cascão" -, situada nos fundos do quartel do 19º Batalhão de Caçadores. A área da antiga Fazenda Cascão, de 137 hectares, confina com a Avenida Paralela. É contornada por muros e o acesso é controlado. As trilhas, antes eram percorridas somente pelos soldados em treinamento, podem ser utilizadas por visitantes e pesquisadores, mediante autorização do comando do 19° BC.


   Apesar da presença de espécies exóticas, como jaqueira e mangueira, a mata está em regeneração, o que pode ser notado pela presença de espécies nativas como pau-pombo, matataúba, pau-paraíba, janaúba, ingá, jenipapeiro, sucupira, pindaíba.
   A densa vegetação protege as nascentes do rio Cascão, que alimenta um reservatório de 4.400 metros quadrados de espelho-d'água, construído entre 1905 e 1907, pelo engenheiro Teodoro Sampaio. Todavia o corpo d'água, antes límpido, foi contaminado nos últimos anos por esgotos domésticos, lançados diretamente no rio Cascão (ou rio das Pedras), oriundos de condomínios residenciais e invasões instaladas nas vizinhanças. Em razão disso, a pesca e o banho foram proibidos.

E assim nasce o bairro Saboeiro...


Após a derrubada dos quilombos, antes do meado do século XIX até o início do século XX, ainda com o remanescente da população que ali se refugiou, o Cabula começou a ser dividido, surgindo vários bairros, inclusive o bairro do Saboeiro.




 Desenvolvimento da Região do Cabula

Para atender a demanda da população que crescia em ritmo acelerado foram implantados equipamentos públicos e privados em toda a Região do Cabula, conforme a seguir:

Lemos de Brito  – Mata Escura

Na década de 1950 foi criada  a penitenciária Lemos de Brito, no bairro Mata Escura, bairro também pertencente a região do Cabula, a penitenciária Lemos de Brito é  bastante conhecida por ser  o maior presídio do Estado da Bahia.

Escola Visconde de Itaparica - Cabula

Em 1954 foi fundada a  primeira escola pública do bairro do Cabula -   Escola Visconde de Itaparica.

19 BC - 19º Batalhão de Caçadores - Cabula

Subordinado a 6ª Região Militar da Bahia, conhecido como Batalhão Pirajá, localizado no bairro do Cabula, o 19 BC é uma unidade pertencente ao exército brasileiro. No 19 BC encontra-se a Mata do Cascão, na qual a nascentes do Rio Cascão, sendo um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica de Salvador.

CETEBA-Centro de Educação Técnica da Bahia – Cabula

Em 12 de outubro de 1968 foi criado o Centro de Educação Técnica da Bahia (CETEBA), oferecendo cursos técnicos de curta duração. A partir de 1974, através do Decreto nº 24.039/74, o centro foi transformado na Fundação Centro de Educação Técnica da Bahia – CETEBA. Posteriormente foi promulgada a lei nº 12/80, que extinguiu a Fundação e criou a Superintendência de Ensino Superior da Bahia (SESEB).

TELEBAHIA - Telecomunicações da Bahia – Cabula

Em 1973, foi fundada a Telebahia, juntamente com o Telebrás - Sistema de telecomunicações brasileiro. A Telebahia foi a primeira empresa a desenvolver diversos serviços telefônicos na Bahia, trazendo inclusive os orelhões, que posteriormente foi utilizado em todo o Brasil por sua sucessora, Telemar. Em 1997 a Telebahia criou a telefonia móvel digital. Em 1198 a Telebahia e a Telebahia Celular foram privatizadas.

UNEB - Universidade do Estado da Bahia - Cabula

Em 1983, foi criada a maior instituição pública de ensino superior das regiões Norte e Nordeste do Brasil, a UNEB.

Hospital Roberto Santos

Foi criado também no Cabula, um dos maiores hospitais público de Salvador, o Hospital Geral Roberto Santos.





Referências:

Disponível em: < http://www.historia-brasi l.com/bahia/salvador.htm>: Acessado em 29 de out. de 2014.

MATTA, Alfredo. História da Bahia: licenciatura em História. Salvador: Eduneb, 2013.




ENTREVISTA COM UMA MORADORA  DE 70 ANOS, QUE MORA NA RUA JOSÉ FERREIRA  HÁ 43 ANOS.




ENTREVISTADORA: Como era a rua José Ferreira?
ENTREVISTADA: Chegamos aqui em 1961, meu marido comprou um lote na mão uma "dona". Fomos os primeiros moradores dessa rua.
Quando cheguei aqui era só mato e barro. Tinha muitas  árvores  frutíferas como: limoeiros e bananeiras,  tangerineiras, mamoeiros, abacateiros, mangueiras, jaqueiras, goiabeiras, pitangueiras, dendezeiros, coqueiros e cajueiros.
Também tinha uma nascente em que água saia da raiz do dendezeiro, até hoje ela existe. Localiza-se perto da horta da rua  da Primeira Travessa, depois do Campo de Futebol. 
Na rua de baixo, hoje chamada de Baixa do Saboeiro, tinha um dique onde pescávamos peixes (traíra) e camarões.
Com a chegada do hospital Roberto Santos e do Condomínio Habitacional, o rio passou a ser poluído com o esgoto que vinha desses lugares.

ENTREVISTADORA: Tinha pé de laranja- de- umbigo?
ENTREVISTADA: Tinha muitas laranjeiras, mas não de umbigo. Tinha muito limoeiro.

ENTREVISTADORA: Quando a senhora chegou ao Saboeiro tinha filhos?
ENTREVISTADA: Sim, quatro filhos. Duas meninas e dois meninos.

ENTREVISTADORA: Quais as idades das crianças?
ENTREVISTADA: Entre 1 a 5 anos de idade.

ENTREVISTADORA: Como foi criar quatro filhos num lugar pouco povoado?
ENTREVISTADA: Foi muito bom.  Não tinha violência. Toda a nossa da alimentação vinha das plantações que fazíamos e dos peixes e camarões que pescávamos no rio. Quando queríamos comer algo diferente ou comprar roupas íamos andando até a Baixa dos Sapateiros, pois ainda não existiam linhas de ônibus, o único transporte  era táxi, mas os taxistas não gostavam de nos trazer até o Saboeiro porque era muito deserto.
Meus filhos brincavam livremente, sem preocupação.

ENTREVISTADORA: Como era o comércio no Saboeiro?

ENTREVISTADA: Só tinha uma barraca, onde fica hoje o Hospital Roberto Santos, vendia de tudo: pão, açúcar, feijão, arroz, farinha, carne de sertão, etc.

ENTREVISTADORA: Atualmente, como é a rua José Ferreira?
ENTREVISTADA:  Bem diferente. Hoje tem muitos moradores, ruas asfaltada. Tem muitos carros. Temos linha de ônibus, um bom comércio, escolas, posto médico, hospital. "Tá" tudo evoluído.

ENTREVISTADORA: Do que a senhora sente falta?
ENTREVISTADA: Sinto falta das árvores frutíferas, do verde, da calmaria. Era muito tranquilo. Não tinha violência.


 PRIMEIRAS  IMPRESSÕES...

    Esta entrevista me fez viajar na minha infância. Lembrei do quanto eu e meus irmãos nos divertíamos no balaço amarrado no pé de jaqueira que ficava no quintal da minha casa.       Quantas mudanças ocorreram em meu  bairro Saboeiro, principalmente, em minha rua desde a chegada dos primeiros moradores. 
    Com a implantação do Conjunto Habitacional, do Hospital Roberto Santos e das escolas, o desenvolvimento do bairro foi gradualmente acontecendo.
   Hoje o bairro ainda possui um pouco de mata Atlântica, mas devido a construção de novos condomínios e residências, o resquício dessa mata tem sofrido com o desmatamento desenfreado.